sábado, 1 de agosto de 2015

Análise da Obra "Vidas Secas", Graciliano Ramos

Graciliano Ramos e sua obra
  • 2ª Geração do Modernismo
  • Ciclo Regionalista do 
  • Nordeste
  • Compôs uma série de romances cuja descontinuidade é sintoma de um espírito pronto à indagação, à fratura, ao problema;
  • Realismo crítico (engajamento)


  • 1938 – único romance do autor narrado em terceira pessoa; 
  • Narrador utiliza-se do discurso indireto-livre para colocar posições que podem ser da personagem ou dele mesmo; 
  • Narrador onisciente – mostra seca e friamente a miséria e a situação precária do mundo exterior 
  • Personagens vistos no seu modo de ser, de pensar e de sentir (em meio à paisagem inóspita e aos desajustes sociais)
  • Tempo: não é cronológico (tempo indeterminado) 
  • Espaço: catinga (amplitude), em uma certa fazenda, perto de um povoado qualquer
  • Na obra se usa “catinga” (e não caatinga) – verbo catingar – desagradável odor de morte da região
  • Elementos humanos (quatro capítulos):
        Fabiano
        Sinha Vitória
        Menino mais novo
        Menino mais velho

        (Zoomorfismo - força para enfrentar o meio)


Resumo dos Capítulos


Capítulo 1 - Mudança
É a história da retirada de uma família, fugindo da seca. Fazem parte dela Fabiano, sua esposa Vitória, dois filhos, caracterizados pelo autor apenas como " menino mais novo" e "o menino mais velho", e a cachorra Baleia (deve-se lembrar que o romance fala em seis viventes, contando com o papagaio que eles comeram por não haver comida por perto). Nesse capítulo temos a descrição da terra árida e do sofrimento da família. As personagens não se comunicam; apenas duas vezes o pai, irritado com o menino mais velho, xinga-o. Essa falta de diálogos permanece por todo o livro, como também a intenção de não dar nome às crianças, para caracterizar a vida mesquinha e sem sentido em que vivem os retirantes, que não têm consciência de sua situação, embora, ainda nesse primeiro capítulo, Fabiano e Vitória sonhem com uma vida melhor: "Sinhá Vitória, queimando o assento no chão, as moas cruzadas segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas, tudo numa confusão.

Mais adiante é Fabiano quem sonha: "
Sinhá Vitória vestiria uma saia larga de ramagens. A cara murcha de sinhá Vitória remoçaria, as nádegas bambas de sinhá Vitória engrossariam, a roupa encarnada de sinhá Vitória provoca ria a inveja das outras caboclas ... e ele, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria o dono daquele mundo... Os meninos se espojariam na terra fofa do chiqueiro das cabras. Chocalhos tilintariam pelos arredores. A caatinga ficaria verde.

Capítulo 2 - Fabiano
Mostra o homem embrutecido, mas ainda capaz de analisar a si próprio. Tem a consciência de que mal sabe falar, embora admire os que sabem se expressar. E chega à conclusão de que não passa de um bicho.


Capítulo 3 - Cadeia
Aqui, pela primeira vez, aparece a figura do soldado amarelo, que mais tarde voltará simbolizando a autoridade do governo. Igualmente, pela primeira vez, insinua-se a ideia de que não é apenas a seca que faz de Fabiano e sua família pessoas animalizadas. Ele é preso sem qualquer motivo e toma a analisar sua situação de homem-bicho. Só que, desta vez, não tem mais coragem de sonhar com um futuro melhor. Ao fim do capítulo, temos Fabiano ciente de sua condição de homem vencido e, pior ainda, sem ilusões com relação à vida de seus filhos.
Capítulo 4 - Sinha Vitória Se as aspirações do marido resumem-se em saber usar as palavras adequadas a uma situação, a de Vitória é uma cama de couro. Também essa cama será motivo diversas vezes repetido no decorrer da obra, como veremos adiante. Além de ser a personagem que melhor articula palavras e expressões, conseqüência de ser talvez a que mais tem tempo para pensar, uma vez que Fabiano trabalha o dia todo e à noite dorme, sem ter coragem para devaneios ou para falsear sua dura realidade, ela é caracterizada como esperta e descobre que o patrão rouba nas contas do marido (no capítulo Contas).
Capítulo 5 - O Menino Mais Novo
Também ele possui um ideal na vida: o de se identificar ao pai. No início do capítulo: "Naquele momento Fabiano lhe causava grande admiração."

Adiante: "
Evidentemente ele não era Fabiano. Mas se fosse? Precisava mostrar que podia ser Fabiano."

Em seguida: "
E precisava crescer ficar tão grande como Fabiano, matar cabras à mão de pilão, trazer uma faca de ponta na cintura. Ia crescer espichar-se numa cama de varas, fumar cigarros de palha, calçar sapatos de couro cru."

E
finalmente: "Ao regressar, apear-se-ia num pulo e andaria no pátio assim, torto, de perneiras, gibão, guarda-peito e chapéu de couro com barbicocho. O menino mais velho e Baleia ficariam admirados."
Capítulo 6 - O Menino Mais Velho "Tinha um vocabulário quase tão minguado coma o da papagaio que morrera no tempo da seca. Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, e Baleia respondia com o rabo, com a língua, com movimentos fáceis de entender Todos o abandonavam, a cadelinha era o único vivente que lhe mostrava simpatia." O nível das aspirações dos componentes da família decresce cada vez mais. O ideal do menino mais velho é o de ter um amigo. A amizade de Baleia já lhe servia: "O menino continuava a abraçá-la. E Baleia encolhia-separa não magoá-lo, sofria a carícia excessiva."
Capítulo 7 - Inverno Temos a descrição de uma noite chuvosa e os temores e devaneios que desperta na família de Fabiano. A chuva inundava tudo, quase inundava a casa deles também, mas eles sabiam que dentro em pouco a seca tomaria conta de suas vidas outra vez.
Capítulo 8 - Festa Apresenta primeiramente os preparativos da família, em casa, para ir à festa de Natal na cidade e, em seguida, dirigindo-se à festa. É, senão o mais, um dos mais melancólicos capítulos do livro — quando as personagens centrais da história, em contato com outras pessoas, sentem-se mais humilhadas, mesquinhas e ate mesmo ridículas. Percebem a distância em que se encontram dos demais seres e isso é novo motivo de humilhação para eles. Resta a sinhá Vitória a solução do devaneio: "Sinha Vitória enxergava, através das barracas, a cama de seu Tomás da bolandeira. unia cama de verdade."

Para Fabiano, não há esperanças: "
Fabiano roncava de papo para cima... Sonhava agoniado... Fabiano se agitava. soprando. Muitos soldados amarelos tinham aparecido, pisavam-lhe os pés com enormes retinas e ameaçavam-no com facões terríveis."
Capítulo 9 - Baleia Conta a morte da cachorra. Caíra-lhe o pêlo, estava pele e ossos, o corpo enchera-se de chagas. Fabiano resolve matá-la para aliviar os sofrimentos dela. Os filhos percebem a situação, magoados e feridos por perderem um “irmão”: "Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferenciavam..."

Já ferida, com os demais membros da família chorando e rezando por ela, Baleia espera a morte sonhando com outro tipo de vida: "
Baleia queria dormir Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano. um Fabiano enorme. As crianças se esposariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás gordos, enormes."
Percebe-se, aliás, que dos seis componentes da família, Baleia é quem, ao lado de Vitória, com maior clareza, consegue elaborar seus devaneios.
Capítulo 10 - Contas
É outro capítulo melancólico. Se em Cadeia Fabiano conscientiza-se de que há no mundo homens que, por possuírem uma posição social diferente da dele, podem machucá-lo, se em Festa os familiares percebem sua situação inferior e desajeitada e sentem-se ridículos, agora chegam à conclusão de que pessoas com dinheiro também podem aproveitar-se deles. São duas as reações de Fabiano ao notar-se roubado pelo patrão: primeiro revolta, depois descrença e resignação. Vale a pena ressaltar nesse capítulo que é sinhá Vitória quem percebe que as contas do patrão estão erradas. Ela é caracterizada como a mais arguta e perspicaz dos seis viventes da família.
Capítulo 11 - O Soldado Amarelo
Temos uma descrição mais profunda desta personagem. Observa-se que, fisicamente, é menos forte que Fabiano; moralmente é uma pessoa corrupta, enquanto Fabiano é honesto; contudo é por ele respeitado e temido, por ocupar o
lugar de representante do governo.
Capítulo 12 - O Mundo Coberto de Penas
A seca está para chegar outra vez, prenunciando mais miséria e sofrimento. Fabiano faz um resumo de todas as desgraças que têm marcado sua vida. Há muito não sonha mais. Seus problemas agora são livrar-se de certo sentimento de culpa por ter matado Baleia e fugir de novo.

Capítulo 13 - Fuga
Continua a análise de Fabiano a respeito de sua vida. A esposa junta-se a ele e refletem juntos pela primeira vez. Vitória é mais otimista e consegue transmitir-lhe um pouco de paz e esperança por algum tempo. E numa mistura de sonhos, descrenças e frustrações termina o livro. Graciliano Ramos transmite uma visão amarga da vida dos retirantes.







Análise da obra

Tempo da Narrador
No romance "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, encontramos a narração em terceira pessoa, com narrador onisciente. Podemos encontrar muitas vezes os discursos indiretos livres. É o próprio narrador que revela o interior dos personagens através de monólogos interiores. O foco narrativo ganha destaque ao converter em palavras os anseios e pensamentos das personagens.
"...Aí, a coleira diminuiu e Fabiano teve pena".
(Cap. 01 – Mudança)

Tempo da Narrativa
O tempo de narrativa medeia duas secas. A primeira que traz a família para a fazenda e a segunda que a leva para o Sul. Mesmo possuindo algumas referências cronológicas na obra, o tempo é psicológico e circular.
"... Sinhá Vitória é saudosista. Lembra-se de acontecimentos antigos, até ser despertada pelo grito da ave e ter a ideia de transformá-la em alimento".
(Cap. 01 – Mudança)

Espaço da Narrativa
O espaço é físico, refere-se ao sertão nordestino, descrito com precisão pelo autor.
"... na lagoa seca, torrada, coberta de caatingas e capões de mato".
(Cap. 11 – O soldado Amarelo)

Personagens:

Fabiano – Nordestino pobre, marido de Sinhá Vitória, pai de dois filhos. Procura trabalho desesperadamente, bebe muito e perde dinheiro no jogo. Possui grandes dificuldades lingüísticas, mas é consciente delas. Homem bruto com dificuldade de se expressar, possui atitudes selvagens. Por não saber se expressar entra num processo de isolamento, aproximando-se dos animais, com os quais se identifica melhor.
Soldado Amarelo – Corrupto, oportunista e medroso, o Soldado Amarelo é símbolo de repressão e do autoritarismo pelo qual é comandado (ditadura Vargas), porém não é forte sozinho; sem as ordens da ditadura, é fraco e acovarda-se diante de Fabiano.
Sinha Vitória – Mulher de Fabiano, sofrida, mãe de dois filhos, lutadora, sonhadora e inconformada com a miséria em que vive, trabalha muito. É a mais inteligente de todos controlando assim as contas e os sonhos de todos.
Filho mais novo e Filho mais velho – São crianças pobres e sofridas que não tem noção da miséria em que vivem. O mais novo vê no pai um ídolo, sonha sobressair-se realizando algo, enquanto o mais velho é curioso, querendo saber o significado da palavra inferno, desvendar a vida e ter amigos.
O dono da fazenda – Contrata Fabiano para trabalhar em sua fazenda, desonesto, explorava seus empregados.
O fiscal da prefeitura – Intolerante e explorador.
Baleia – Cadela da família, tratada como gente, humanizada em vários momentos e muito querida das crianças.
Tomás de Bolandeira - Aparece somente por meio de evocações, é tido como referência por Fabiano e Sinhá Vitória.
Seu Inácio – Dono do bar.


Vidas Secas começa por uma fuga e acaba com outra: ROMANCE CIRCULAR
Vidas secas possui uma estrutura desmontável: ROMANCE MODULAR

Vidas secas é uma obra SECA sobre a SECA: ROMANCE ÁRIDO



Um comentário:

  1. Ler reler ver o filme me fez ver o quanto o Brasil ainda precisa ainda hoje melhorar para que o povo tenha o minimo o minimo para viver bem. As vezes chego apensar que nessa atual conjuntura politica o Brasil não conseguirá mudar. Deus me ouça e que eu esteja errado.

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