terça-feira, 7 de setembro de 2010

Nordeste - Parte 2





O povo nordestino


  • A miscigenação étnica e cultural de índio, europeu e africano foi a base da formação da população do Nordeste. Porém a região não apresenta uma mistura étnica uniforme. Encontramos 
  • de caboclos no Ceará, na Paraíba e no Rio Grande do Norte;
  • de mulatos na Bahia, Piauí, Pernambuco e no Maranhão (que também apresenta uma porcentagem significativa de cafuzos);
  • 25% dos nordestinos apresentam predominância da ancestralidade europeia, em sua maioria holandesa.

Para recordar...

  • Mulato é um termo que designa uma pessoa que é descendente de africanos e europeus 
  • Caboclo é o mestiço de branco índio; caboco, mameluco, cariboca, curiboca. Antiga designação do indígena brasileiro. 
  • Cafuzo é a designação dada no Brasil aos indivíduos resultantes da miscigenação entre índios e negros africanos ou seus descendentes.



João Grilo, personagem de cordel e da obra de Ariano Suassuna representa o caboclo nordestino, que sofre da desconfiança e preconceito dos mulatos, ganhando a alcunha de “amarelo”.

O sertão




  • Uma das origens etimológicas da palavra vem da contração da palavra desertão;
  • Segundo os escritores João de Barros, Damião de Góis, Fernão Mendes Pinto, o padre Antônio Vieira e Pero Vaz de Caminha, culturalmente e folcloricamente, é o interior, mais ligado e com a permanência de costumes e tradições antigas;
  • O nome fixou-se no Norte e no Nordeste, muito mais do que no Sul.
  • O Sertão brasileiro é uma sub-região do Nordeste do Brasil que se estende por grande parte da Bahia, de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Piauí; por todo o Ceará; e por uma pequena parte do Sergipe e de Alagoas. Além disso, atinge o norte e o noroeste de Minas Gerais, mais precisamente no Vale do Jequitinhonha.  

Questão FUVEST

Só os roçados da morte
Compensam aqui cultivar
e cultivá-los é fácil:
simples questão de plantar
não se precisa de limpa,
de adubar nem de regar,
as estiagens e as pragas
fazem-nos mais prosperar;
e dão lucro imediato;
nem é preciso esperar
pela colheita: recebe-se
na hora mesma de semear

(João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina)

Nos versos acima, a personagem da “rezadora” fala das vantagens de sua profissão e de outras semelhantes. A seqüência de imagens neles presente tem como pressuposto imediato a idéia de:

a) sepultamento dos mortos.
b) dificuldade de plantio na seca.
c) escassez de mão-de-obra no sertão.
d) necessidade de melhores contratos de trabalho.
e) técnicas agrícolas adequadas ao sertão.

Resposta correta:

a) sepultamento dos mortos.


— O meu nome é Severino não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mas isso ainda diz pouco: há muito na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da Serra da Costela, limites da Paraíba. Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias,
 
vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas, e iguais também porque o sangue que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida).

É possível identificar nesse excerto características:

a) regionalistas, uma vez que há elementos do sertão brasileiro.
b) vanguardistas, pois o tratamento dispensado à linguagem é absolutamente original.
c) existencialistas, pois há a preocupação em revelar a sensação de vazio do homem do sertão.
d) naturalistas, porque identifica-se em Severino as características típicas do herói do século XIX.
e) surrealistas, já que existe uma apelação ao onírico e ao fantástico.


Resposta correta:

a) regionalistas, uma vez que há elementos do sertão brasileiro



O sertanejo é, antes de tudo, um forte!



  • O isolamento do sertanejo o mantém preso a valores arcaicos como o messianismo, sobremodo em sua feição sebastianista. 
  • A “tutela do sobrenatural” rege a vida cotidiana e as vicissitudes do meio intensificam a religiosidade e a consciência mágica do mundo.
  • Um mundo de profetas, de iluminados, de místicos que, nas cidades da Costa, seriam considerados loucos, mas que ali, naquela civilização imobilizada na História, eram os líderes naturais, expressando os valores da comunidade.





  • Cabeças chatas, comedores de farinha e rapadura, os flagelados em tempos de seca, os necessitados; assim é que boa parte da população “sulista” vê o nordestino. Para muitos de uma terra seca como “aquela” não poderia sair outro fruto
  • E o preconceito não recai apenas em sua população, a cultura também é mal vista, apesar de grandes expoentes de todas as áreas das artes no Brasil nascerem no Nordeste.
  • Grandes poetas, excelentes romancistas, ótimos pensadores, incomparáveis músicos e artistas em geral ganharam espaço no mundo todo.
  • Porém um rótulo de vulgaridade, de falta de expressividade, de cultura menos elaborada os perseguem.
  • A cultura popular, por sua vez, é a mais perseguida porque não move muito dinheiro.





Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos, tão diversos pelo matiz das cores, o capim crescido e ressecado pelo ardor do sol transforma-se em vicejante tapete  de relva, quando lavra o incêndio que algum tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com umafaúlha do seu isqueiro.

Minando à surda na touceira, queda a vivida centelha. Corra dai a instantes qualquer aragem, por débil que seja, e levanta-se a língua de fogo esguia e trêmula, como que se alongam diante dela.
O fogo, detido em pontos, aqui, ali, a consumir com mais lentidão algum estorvo, vai aos poucos morrendo até se extinguir de todo, deixando como sinal da avassaladora passagem o alvacento lençol, que lhe foi seguindo os velozes passos. Por toda parte melancolia; de todos os lados tétricas perspectivas.

É cair, porém, dai a dias copiosa chuva, e parece que uma varinha de fada andou por aqueles sombrios recantos a traçar às pressas jardins encantados e nunca vistos. Entra tudo num trabalho íntimo de espantosa atividade. Transborda a vida.


O REGIONALISMO ROMÂNTICO

Saindo da abordagem urbana o escritor volta-se para o campo, para a província e para o sertão, num esforço nacionalista de reconhecer e exaltar a terra e o homem brasileiro, acentuado as particularidades de seus costumes e ambientes. 

Assim ele busca retratar o Nordeste ( O Sertanejo, de Alencar e a Cabeleira, de Franklin Távora), o Sul ( o Gaúcho, de Alencar) o Sertão de Minas e Goiás ( o Garimpeiro e o Seminarista, de Bernardo Guimarães) e o Sertão e o Pantanal de Mato Grosso ( Inocência, do Visconde de Taunay).


A literatura romântica no Brasil apresentou várias tendências, entre elas:
  • Regionalismo (ou sertanismo), que aborda o nosso homem o nosso homem do interior, caracterizando a região em que vive com seu folclore, seu costume e tipo característico;
  • Realidade política e social (o abolicionismo, as lutas humanitárias, sentimentos liberais, o poder agrário);

O romance romântico teve fundamental importância na formação da ideia de nação. Considerando o trecho acima, é possivel reconhecer que uma das principais e permanentes contribuições do Romantismo para construção da identidade da nação é a 

a) possibilidade de apresentar uma dimensão desconhecida da natureza nacional, marcada pelo subdesenvolvimento e pela falta de perspectiva de renovação. 

b) consciência da exploração da terra pelos colonizadores e pela classe dominante local, o que coibiu a exploração desenfreada das riquezas naturais do país. 

c) construção, em linguagem simples, realista e documental, sem fantasia ou exaltação, de uma imagem da terra que revelou o quanto é grandiosa a natureza brasileira. 

d) expansão dos limites geográfioos da terra, que promoveu o sentimento de unidade do território nacional e deu a conheoer os lugares mais distantes do Brasil aos brasileiros. 

e) valorização da vida urbana e do progresso, em detrimento do interior do Brasil, formulando um conceito de nação centrado nos modelos da nascente burguesia brasileira.

Resposta correta:

d)  expansão dos limites geográfioos da terra, que promoveu o sentimento de unidade do território nacional e deu a conheoer os lugares mais distantes do Brasil aos brasileiros.




Ai se sessê - Zé da Luz

Se um dia nós se gosta-se
Se um dia nós se quere-se
Se nós dois se emparea-se
Se jutim nós dois vive-se
Se jutim nós dois mora-se
Se jutim nós dois drumi-se
Se jutim nós dois morre-se
Se pro céu nós assubi-se
Mas porém se acontece-se de São Pedro não abri-se
A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arrimina-se
E tu com eu insinti-se
Prá que eu me arresouve-se
E a minha faca puxa-se
E o bucho do céu fura-se
Távez que nós dois fica-se
Távez que nós dois cai-se
E o céu furado arria-se
E as virgem todas fugir-se


Brasil Real  Brasil Oficial






















    " O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco“
    ( Machado de Assis - "Diário do RJ" - 29-12-1861) 




















    Euclides da Cunha foi o primeiro escritor brasileiro a diagnosticar o subdesenvolvimento do Brasil, referindo-se à existência de dois países contraditórios: o do litoral e o do sertão. Canudos resultou do confronto entre esses dois Brasis, distintos entre si no espaço e no tempo, pelo atraso de séculos em que vivia mergulhada a sociedade rural. 


     " O mal de nossa terra está entre alguém e ninguém: poucos serem COM, muitos serem SEM. Mande a sua ajuda para o menino Brasil. Endereço: qualquer rua, o número é dois mil !



    Se não quiser ajudar então fique na sua ! Depois não vá dizer que a
    culpa não é sua !








    Se você prestar atenção
    de onde vem essa voz,
    ela vem bem lá do fundo, 
    de dentro de todos nós !

    Esta criança é um milagre, 
    Só parece que é um bebê !
    Tem mais de quinhentos anos 
    E se parece com você ! 

    Mas ela tem um segredo
    que vem do passado escuro:
    ela é nosso presente,
    prá ser um novo futuro !



    Vamos, menino Brasil ! 
    Vamos tudo mudar !
    Vamos recomeçar a luta
    prá justiça implantar !

    O modelo para seguir
    está em nossa memória.
    Vamos seguir Canudos
    Prá avançar na História !







    “(…) esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se.”
    Assinale a frase que, retirada de Os sertões, sintetiza o trecho citado.

    a) “é o homem permanentemente fatigado”
    b) “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”
    c) “a raça forte não destrói a fraca pelas armas, esmaga-a pela civilização”
    d) “Reflete a preguiça invencível (…) em tudo”
    e) “a sua religião é como ele — mestiça”

    Resposta correta:

    b) "o sertanejo é, antes de tudo, um forte"


    O cacto - Manuel Bandeira

    Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
    Laocoonte constrangido pelas serpentes,
    Ugolino e os filhos esfaimados.
    Evocava também o seco Nordeste, carnaubais, caatingas...
    Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades 
    excepcionais.

    Um dia um tufão furibundo abateu-os pela raiz.
    O cacto tombou atravessado na rua,
    Quebrou os beirais do casario fronteiro,
    Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
    Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas
    privou a cidade de iluminação e energia:

    - Era belo, áspero, intratável.


    • A toada é uma cantiga, canção, cantinela, soada; solfa, a melodia nos verso para cantar. 
    • Com raras exceções – amorosos, líricos, cômicos – fogem da forma romanceada, sendo formalmente de estrofe e refrão.
    • Musicalmente, não tem características definidas, pois abrange várias regiões e reflete as peculiaridades de cada uma delas.
    • A toada Luar do Sertão (1914) é de autoria de João Pernambuco (melodia) e Catulo da Paixão Cearense (letra). Já foi considera o segundo hino brasileiro, cantada por vários artistas brasileiros, foi popularizada primeiramente pela interpretação dos cariocas Vicente Celestino e Francisco Alves.


    Ai que saudade do luar da minha terra
    Lá na serra branquejando
    Folhas secas pelo chão
    Este luar cá da cidade tão escuro
    Não tem aquela saudade
    Do luar lá do sertão

    Não há, oh gente, oh não
    Luar como este do sertão
    Não há, oh gente, oh não
    Luar como este do sertão

    Se a lua nasce por detrás da verde mata
    Mais parece um sol de prata
    Prateando a solidão
    A gente pega na viola que ponteia
    E a canção é a lua cheia
    A nos nascer no coração

    Não há, oh gente, oh não
    Luar como este do sertão
    Não há, oh gente, oh não
    Luar como este do sertão

    Coisa mais bela neste mundo não existe
    Do que ouvir-se um galo triste
    No sertão, se faz luar
    Parece até que a alma da lua é que descanta
    Escondida na garganta
    Desse galo a soluçar

    Não há, oh gente, oh não
    Luar como este do sertão
    Não há, oh gente, oh não
    Luar como este do sertão

    Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra
    Abraçado à minha terra
    E dormindo de uma vez
    Ser enterrado numa grota pequenina
    Onde à tarde a sururina
    Chora a sua viuvez

    Não há, oh gente, oh não
    Luar como este do sertão
    Não há, oh gente, oh não
    Luar como este do sertão



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