sábado, 24 de novembro de 2012

Eu e outras poesias - Augusto dos Anjos


EU e outras poesias
Augusto dos Anjos


·         Linguagem original, chocante, marcada por palavras esdrúxulas.
·         Tradicional na forma e moderno no conteúdo.
·         Vocabulário rebuscado e científico.
·         Dimensão cósmica, foco em todas as energias do universo que se teriam encaminhado para a construção desse mistério que é o EU.
·         Angústia profunda diante da totalidade da morte (decomposição da carne)
·         Vontade de viver é a raiz de todas as dores. (influência de Schopenhauer "Viver é sofrer")
·         *Niilismo
·         Tematização do horrível, do grotesco, do "mau gosto" proposital.
·         Poesia escatológica, apoética (não poético).
·         Pré-Modernismo (1ºs anos do século XX)
o   inovação no conteúdo - constrói seus poemas com elementos não poéticos.
o   conservador na forma - métrica, rima, preferência pelo soneto (continua a tradição parnasiana.)
o   Retórica naturalista => vocabulário cientificista
·         hipérbole: exagera
·         Temas mais comuns: visão trágica e mórbida da existência, pessimismo, asco ao prazer e aproximação ao grotesco (culto ao feio)
·         Não o confunda com um poeta que ama a morte, mas sim que tem horror à vida

·         Não pode se reduzi o poeta ao mórbido, em muitos poemas é possível perceber a presença de um comprometimento com a crítica social. É possível encontrar em sua obra alusão:
o   Ao massacre de índios, à tortura praticada contra escravos negros, sobre a revolta da chibata, a repressão pela qual passou o povo brasileiro.

·         O título EU, do livro, vale por uma autopsicologia. É um monossílabo tônico que fala. O eeu e o Augusto, sua carne e seu sangue, seu sobro de vida. É ele integralmente no desnudo gritante de sua sinceridade, no clamor de suas vibrações nervosas, na apoteose de seu sentir, nos alentos e desalento de seu espírito.
·         As vozes que falam no EU parecem estar determinadas a fazer enxergar o mundo através de suas lentes corrosivas e barbarizantes.
·         Estas vozes apresentam um vigor verbal e imagético capaz de distorcer o real até a caricatura mais mordaz.


Monólogo de uma sombra
Este poema funciona como um prefácio da obra. Uma sombra toma a voz lírica, o que é marcado pelo fato de o poema começar por entre aspas. Esta sombra, que a princípio se coloca distanciada das questões humanas e mostra até certo nojo sobre isso, se irmana com os homens ao falar que também faz parte da raça fadada a desgraça e ao infortúnio.
O poema apresenta também dos arquétipos, o filósofo moderno e o Sátiro. O primeiro representa o pensador, aquele que tem a consciência de seu desmoronamento ou de sua vida que na verdade fabrica a morte. Seu fim é apenas carnal, como uma forma de sacrifício para a compreensão do leitor. O segundo representa o lado instintivo, a punção sexual do ser humano. Seu fim é menos glorificado do que do filósofo e o fim da matéria não significaria o fim da culpa. O eu-lírico toma a voz poética no fim do poema e como piar de corujas prever de forma pessimista o que ainda estava por vir até a sua morte.

O Morcego
O tema é a incapacidade de fugirmos de nossa consciência. A consciência é comparada a um morcego. A mordida anunciada pelo eu-lírico é a consciência ferida, pesada. É inútil tentativa de expulsá-lo(a), nem muros ou tela poderia evitá-lo(a). O Morcego é apresentado como uma criatura feia, asquerosa.
Psicologia de um vencido
Concepção da vida como apenas de ordem biológica e não como filho de Deus. O mal é originado do nascimento do próprio homem. A humanidade e a vida causam nojo e repugnância. O Verme é o grande vencedor da vida, pois, como símbolo da putrefação e da degeneração da matéria, é ele que espera a todos para devorá-los. A vida é desintegração e a matéria é a morte gradual.
A Ideia
Começa com um questionamento, sobre onde vem a ideia. Descreve o caminho percorrido pela mesma, de forma biológica, do cérebro até a língua. A capacidade de externar a ideia é colocada em cheque e a mesma quando sai está quase morta.
O Lázaro da Pátria
É um dos poemas que trabalham com a questão social. O vocábulo “Pátria” é muito pouco usado pelo poeta e aqui aparece com um sentido bastante negativo. A Bíblia fala de dois Lázaros, um que tinha o corpo tomado por feridas que os cães lambiam e outro, amigo de Jesus, ressuscitado por este. Assim, o índio ressuscitado tantas vezes na história de nosso país e fadado a uma vida marginal, doente e maltrapilho. Os Goitacases, citados no poema, são a antiga nação indígena do Nordeste brasileiro, praticamente extinta. O nosso ressuscitado goitacás, caminha sem destino à noite e com um futuro cada vez mais incerto.
Idealização da Humanidade Futura
Visão que se impõe no eu-lírico sobre a humanidade no futuro. Os ímpetos impuros dos homens tornarão as gerações futuras etnicamente irracionais. A vida surgira de montes de lixos e na consciência das pessoas não mais se encontrará a luz da razão e sim a lama e a mosca da putrefação. É o pessimismo em relação à humanidade, o homem traz e levará consigo o mal e a podridão.
Versos a um cão
Mostra que o cão, como um organismo vivo, também carrega consigo a hereditária dor de viver e assim se irmana aos homens no processo continuo de desintegração
O Deus Verme
Este é o deus da matéria. É o decompositor de todo organismo. Apresenta que o destino da vida é fabricar a morte!
Debaixo do Tamarindo
Tem uma relação com a biografia do poeta que tinha uma ligação com a árvore por causa de sua infância e adolescência. Quando fala da “Paleontologia dos Carvalhos” diz sobre o desejo de ser enterrado na sombra desta árvore. Esta temática é retomada em Vozes da morte, porém com a perspectiva de continuidade, com os frutos do tamarindo sendo filhos da junção da árvore com a matéria decomposta do poeta.

Idealismo
O eu-lírico faz uma reflexão sobre a humanidade e com a forma de amor do seu tempo. Ele condena o amor carnal e afirma que este amor não é digno de ser cantado em sua poesia. Assim o poema trabalha com a metalinguagem. A última estrofe afirma que o amor verdadeiro só pode ser conseguido após a morte. A temática do amor é retomada em Versos de Amor. Este faz uma comparação entre o amor e a cana diante da aparência de ser doce, porém a experiência mostra que a expectativa da doçura era apenas uma ilusão. O eu-lírico aponta para a impossibilidade de compreender o amor. O Amor verdadeiro, feito entre as almas, é impossível de ser descrito em palavras e esta acima do mero amor da matéria. O eu-lírica acena para a necessidade de se buscar o amor elevado, com risco de não acha-lo e no final ter um coração gasto, porém vazio. Opinão minha daria uma ótima questão compará-lo com o poema arte de amar de Manuel Bandeira, pois o poeta modernista tem uma visão contrária a dele.
Arte de amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Versos Íntimos
Fala da ingratidão e da capacidade do homem de ser mal e que corrompe todos e tudo a sua volta. Como em outros poemas ele diz que o homem tem dedo de peçonha, ou seja, tudo que ele toda é corrompido.






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