quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Romantismo








Meu canto de morte
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi

Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.




Brilhantes flores, coloridos prados, sombras frescas, bosquezinhos, verdura, vinde purificar minha imaginação (...) Galgo os rochedos, as montanhas, mergulho nos vales, nos bosques, para me furtar, tanto possível, à lembrança dos homens e aos ataques dos maus. Parece-me que sob as sombras de uma floresta sou esquecido, livre e calmo como se não mais tivesse inimigos, ou como se a folhagem dos bosques me defendesse.  (Rousseau )





Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração - abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos,
D'altas vitudes, té capaz de crimes!
Compreender o infinito, a imensidade,
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D'aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa.
Isso é amor, e desse amor se morre! (...)





Já é tempo do meu coração não se comover porque aos outros já deixei de emocionar mas embora eu não possa ser amado que possa pelo menos amar. (Byron)


Às vezes não compreendo como outro possa amá-la, tenha o direito de amá-la, quando eu, somente eu a amo com tanta ternura, tão profundamente, não pensando em outra coisa, querendo apenas esse amor, e não possuindo nada além dele. (Werther)


Álvares de Azevedo

Vinte anos! derramei-os gota a gota
Num abismo de dor e esquecimento...
De fogosas visões nutri meu peito...
Vinte anos!... não vivi um só momento!
(...)

Eu sonhei tanto amor, tantas venturas,
Tantas noites de febre e d'esperança.
Mas hoje o coração desbota, esfria,

e do peito no túmulo descansa!


Hinos dos Profeta - Álvares de Azevedo

A morte, leviana prostituta,
Não distingue os amantes!....
Eu, pobre sonhador! eu, terra inculta 
Onde não fecundou-se uma semente,
Convosco dormirei... 


Se eu morresse amanhã - Álvares de Azevedo

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã*!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
 
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã*...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

Louçã: graciosa, encantadora
Afã: vontade, ânsia 


Solidão - Álvares de Azevedo

Nas nuvens cor de cinza do horizonte
A lua amarelada a face embuça;
Parece que tem frio, e no seu leito
Deitou, para dormir, a carapuça.

Ergueu-se, vem da noite a vagabunda
Sem xale, sem camisa e sem mantilha,
Vem nua e bela procurar amantes;
É doida por amor da noite a filha.

As nuvens são uns frades de joelhos,
Rezam adormecendo no oratório;
Todos têm o capuz e bons narizes
E parecem sonhar o refeitório.

As árvores prateiam-se na praia,
Qual de uma fada os mágicos retiros...
Ó lua, as doces brisas que sussurram
Coam dos teus lábios como suspiros!  

Falando ao coração que nota aérea
Deste céu, destas se desata?
Canta assim algum gênio adormecido
De ondas mortas no lençol de prata?

Minh'alma tenebrosa se entristece.
É muda como sala mortuária...
Deito-me só e triste, sem ter fome
Vendo na mesa a ceia solitária.  

Ó lua, ó lua bela dos amores,
Se tu és moça e tens um peito amigo,
Não me deixes assim dormir solteiro
À meia-noite vem cear comigo!


Namoro a cavalo - Álvares de Azevedo

Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça 
Que rege a minha vida malfadada 
Pôs lá no fim da rua do Catete 
A minha Dulcinéia namorada. 
Alugo (três mil réis) por uma tarde 
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando 
À minha namorada na janela... 
  
Todo o meu ordenado vai-se em flores 
E em lindas folhas de papel bordado, 
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso, 
Algum verso bonito... mas furtado.



Casimiro de Abreu 

Ah! minha infância saudosa
Que me mostravas à mente,
Neste viver inocente,
Tão verdejante e florida,
A longa estrada da vida
Que é toda tão escabrosa!


Meus oito anos - Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!




Castro Alves

Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe - que faz a palma,
É chuva - que faz o mar. 


Adormecida - Castro Alves


Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão...solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
(...)

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras*,
Iam na face trêmulos - beijá-la

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a ...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
(...)

Vozes d'África - Castro Alves

Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde, desde então, corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus? (...)

Não basta inda de dor, ó Deus terrível?
É pois teu peito eterno, inexaurível*
De vingança e rancor?
E que é que eu fiz, Senhor? que torvo* crime
Eu cometi jamais que assim me oprime
Teu gládio* vingador?! 




O romance romântico
Os romances dos autores românticos europeus como Victor Hugo, Alexandre Dumas, Walter Scott e outros tornaram-se populares no Brasil através de sua publicação em jornais, depois de 1830, criando no público o gosto por um gênero ainda desconhecido entre nós.
Ao escrever um folhetim, o artista submetia-se às exigências do público leitor e dos diretores de jornais. O francês Eugène Sue chegou a ressuscitar um personagem porque os leitores não haviam se conformado com sua morte. Ou seja, o que determinava o desenvolvimento e o desfecho de uma narrativa era o gosto popular. Desta forma, ao criar um folhetim o escritor se sujeitava aos valores culturais e ideológicos do público, que desejava histórias melodramáticas e alienadas da realidade.


Os Conflitos:
  • a falta de dinheiro - o pobre casa com a rica e vice-versa, movido apenas pelo amor; ou um deles recebe grande herança de parente desconhecido, etc.
  • a ausência de identidade - aparecem amuletos, retratos, objetos ou sinais corporais que provam o que se deseja provar, geralmente a origem nobre ou burguesa de um plebeu.
  • a inexistência de testemunhos - surgem personagens, muitas vezes vindos das sombras, que ouvem conversações secretas ou recebem confissões proibidas, e que então confirmam uma identidade perdida ou inculpam alguém por um crime cometido.

Romance Brasileiro
Romance brasileiro = Romance romântico europeu + cenários brasileiros + valores patriarcais

O Romance Urbano (ou “de costumes”) retratos do “modus vivendi” da burguesia carioca do século XIX

  • Sentimentalismo 
  • Impasse ou conflito amoroso 
  • Predominância do final feliz 
  • Oposição aos valores sociais (crítica social velada) 
  • Peripécia narrativa 
  • Flash-back narrativo 
  • Idealização 
    • do amor (sentimento sublime, redentor) 
    • do herói 
    • da mulher 
    • do espaço 
  • Predomínio de personagens planas 
  • Linguagem metafórica, “colorida”




O Romance Indianista (as “lendas indígenas”) – resgate de nossas raízes étnicas

  • Profundo lirismo 
  • Exaltação da natureza-pátria 
  • Valorização do elemento nativo 
  • Idealização 
    • do amor 
    • do herói 
    • do espaço 
  • Linguagem metafórica 
  • Uso do vocabulário tupi-guarani




O Romance Regionalista – painel das diferentes realidades regionais brasileiras


  • Descrição dos costumes, tradições, valores e linguagens regionais 
  • Crítica social: o contraste mundo rural (primitivo) X mundo urbano (civilizado) 
  • Impasse amoroso (crítica aos valores sociais) 
  • Predominância do desfecho trágico 
  • Ênfase nos regionalismos 
  • Linguagem sob duplo enfoque 
    • Linguagem do narrador 
    • Linguagem dos personagens regionais

O Romance de Urbano de Transição – retrato da população suburbana do Rio de Janeiro do final do século XIX (perfeita “crônica de costumes“)



  • Banalização do sentimento amoroso 
  • Personagens não-idealizadas 
  • Presença do anti-herói 
  • Sátira social 
  • Comicidade 
  • Foco nos acontecimentos 
  • Introdução do juízo de valor


Ex. Memória de um sargento de Milícia, de  Manuel Antônio de Almeida

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