domingo, 25 de agosto de 2013

Simbolismo


Conteúdo relacionado com o espiritual, o místico e o subconsciente: ideia metafísica, crença em forças superiores e desconhecidas, predestinação, sorte, introspecção.

Essa maior ênfase pelo particular e individual do que pelo geral e Universal: valorização máxima do eu interior, individualismo.

Tentativa de afastamento da realidade e da sociedade contemporânea: valorização máxima do cosmos, do misticismo, negação à Terra.

Os textos comumente retratam seres efêmeros (fumaça, gases, neve...). Imagens grandiosas (oceanos, cosmos...) para expressar a ideia de liberdade.

Conhecimento intuitivo e não-lógico. Ênfase na imaginação e na fantasia. Desprezo à natureza: as concepções voltam-se ao místico e sobrenatural.

Pouco interesse pelo enredo e ação narrativa: pouquíssimos textos em prosa. Preferência por momentos incomuns: amanhecer ou entardecer, faixas de transição entre dia e noite.

Linguagem ornada, colorida, exótica, bem rebuscada e cheia de detalhes: as palavras são escolhidas pela sua sonoridade, num ritmo colorido, buscando a sugestão e não a narração.




CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM SIMBOLISTA

As características da linguagem simbolista podem ser assim esquematizadas:

  • Linguagem vaga, fluida, que prefere sugerir a nomear. 
  • Utilização de substantivos abstratos, efêmeros, vagos e imprecisos; 
  • Presença abundante de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias, paronomásias, sinestesias; 
  • Subjetivismo e teorias que voltam-se ao mundo interior; 
  • Antimaterialismo, anti-racionalismo em oposição ao positivismo; 
  • Misticismo, religiosidade, valorização do espiritual para se chegar à paz interior; 
  • Pessimismo, dor de existir; 
  • Desejo de transcendência, de integração cósmica, deixando a matéria e libertando o espírito; 
  • Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte, assim como momentos de transição como o amanhecer e o crepúsculo; Interesse pela exploração das zonas desconhecidas da mente humana (o inconsciente e o subconsciente) e pela loucura. 






Inimiga do ensinamento, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva, a poesia simbolista procura vestir a ideia de uma forma sensível. (Razão + Emoção)










Vida obscura

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres,
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!


ALPHONSUS DE GUIMARAENS (1870-1921) 

Mineiro, passado quase toda a sua vida nas cidades barrocas e decadentes da região aurífera, Alphonsus de Guimarães sofreu as influências ambientais dessas cidades, povoadas apenas, no dizer de Roger Bastide, "de sons e sinos, de velhas deslizando pelos becos silenciosos, de vultos que se escondem à sombra das muralhas. Cidades de brumas, conhecendo as mesmas existências cinzentas e os mesmos fantasmas noturnos: donzelas solitárias, vestidas de luar." Sua poesia gira em torno de pouco assuntos:

a morte da amada 
a religiosidade litúrgica 








Ilustrativo das tendências simbólicas, místicas e musicais de Alphonsus é o seu poema A catedral:


Entre brumas, ao longe, surge a aurora,
O hialino* orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol*.
A catedral ebúrnea* do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos*:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a benção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Poe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu e todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Hialino: transparente
Arrebol: vermelhidão do nascer ou do pôr do sol
Ebúrnea: de marfim
Responsos: versículos rezados ou cantados. 


PEDRO KILKERRY (1885-1917) 

Nasceu em Santo Antonio de Jesus, Bahia. Não chegou a publicar livro em vida, sua obra foi disseminada em jornais e revistas, até ser recolhido na antologia Panorama do  movimento simbolista brasileiro (1952), de Andrade Muricy. Considerado por Augusto de Campos como um dos precursores de nossa modernidade, é reconhecido na Re-visão de Kilkerry (1970). 





O Verme e a Estrela

Agora sabes que sou verme.
Agora, sei da tua luz. 
Se não notei minha epiderme... 
É, nunca estrela eu te supus 
Mas, se cantar pudesse um verme, 
Eu cantaria a tua luz!

E eras assim... Por que não deste 
Um raio, brando, ao teu viver? 
Não te lembrava. Azul-celeste 
O céu, talvez, não pôde ser... 
Mas, ora! enfim, por que não deste 
Somente um raio ao teu viver?

Olho, examino-me a epiderme, 
Olho e não vejo a tua luz! 
Vamos que sou, talvez, um verme... 
Estrela nunca eu te supus! 
Olho, examino-me a epiderme... 
Ceguei! ceguei da tua luz?




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