Conteúdo relacionado com o espiritual, o místico e o subconsciente: ideia metafísica, crença em forças superiores e desconhecidas, predestinação, sorte, introspecção.
Essa maior ênfase pelo particular e individual do que pelo geral e Universal: valorização máxima do eu interior, individualismo.
Tentativa de afastamento da realidade e da sociedade contemporânea: valorização máxima do cosmos, do misticismo, negação à Terra.
Os textos comumente retratam seres efêmeros (fumaça, gases, neve...). Imagens grandiosas (oceanos, cosmos...) para expressar a ideia de liberdade.
Conhecimento intuitivo e não-lógico. Ênfase na imaginação e na fantasia. Desprezo à natureza: as concepções voltam-se ao místico e sobrenatural.
Pouco interesse pelo enredo e ação narrativa: pouquíssimos textos em prosa. Preferência por momentos incomuns: amanhecer ou entardecer, faixas de transição entre dia e noite.
Linguagem ornada, colorida, exótica, bem rebuscada e cheia de detalhes: as palavras são escolhidas pela sua sonoridade, num ritmo colorido, buscando a sugestão e não a narração.
CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM SIMBOLISTA
As características da linguagem simbolista podem ser assim esquematizadas:
- Linguagem vaga, fluida, que prefere sugerir a nomear.
- Utilização de substantivos abstratos, efêmeros, vagos e imprecisos;
- Presença abundante de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias, paronomásias, sinestesias;
- Subjetivismo e teorias que voltam-se ao mundo interior;
- Antimaterialismo, anti-racionalismo em oposição ao positivismo;
- Misticismo, religiosidade, valorização do espiritual para se chegar à paz interior;
- Pessimismo, dor de existir;
- Desejo de transcendência, de integração cósmica, deixando a matéria e libertando o espírito;
- Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte, assim como momentos de transição como o amanhecer e o crepúsculo; Interesse pela exploração das zonas desconhecidas da mente humana (o inconsciente e o subconsciente) e pela loucura.
Inimiga do ensinamento, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva, a poesia simbolista procura vestir a ideia de uma forma sensível. (Razão + Emoção)
Vida obscura
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres,
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.
Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!
ALPHONSUS DE GUIMARAENS (1870-1921)
a morte da amada
a religiosidade litúrgica
Ilustrativo das tendências simbólicas, místicas e musicais de Alphonsus é o seu poema A catedral:
Entre brumas, ao longe, surge a aurora,
O hialino* orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol*.
A catedral ebúrnea* do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos*:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a benção de Jesus.
E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O céu e todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Hialino: transparente
Arrebol: vermelhidão do nascer ou do pôr do sol
Ebúrnea: de marfim
Responsos: versículos rezados ou cantados.
PEDRO KILKERRY (1885-1917)
Nasceu em Santo Antonio de Jesus, Bahia. Não chegou a publicar livro em vida, sua obra foi disseminada em jornais e revistas, até ser recolhido na antologia Panorama do movimento simbolista brasileiro (1952), de Andrade Muricy. Considerado por Augusto de Campos como um dos precursores de nossa modernidade, é reconhecido na Re-visão de Kilkerry (1970).
O Verme e a Estrela
Agora, sei da tua luz.
Se não notei minha epiderme...
É, nunca estrela eu te supus
Mas, se cantar pudesse um verme,
Eu cantaria a tua luz!
E eras assim... Por que não deste
Um raio, brando, ao teu viver?
Não te lembrava. Azul-celeste
O céu, talvez, não pôde ser...
Mas, ora! enfim, por que não deste
Somente um raio ao teu viver?
Olho, examino-me a epiderme,
Olho e não vejo a tua luz!
Vamos que sou, talvez, um verme...
Estrela nunca eu te supus!
Olho, examino-me a epiderme...
Ceguei! ceguei da tua luz?
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