MINAS GERAIS É ASSIM
Fiquei com saudade de um mundo que perdi (por culpa própria): o mundo do tempo comprido, arrastado (os paulistas ficam aflitos ouvindo a fala vagarosa e cantada dos mineiros....); dos móveis feitos a golpes de enxó, orgulhosos de sua rusticidade; das crianças de pés descalços na enxurrada; do cheiro dos cavalos suados; do frango com quiabo, angu e pimenta; do caldo de “ora-pro-nobis” com fubá; do café na canequinha de folha; da cadeira de vime à porta de casa; na rua, meninada brincando; meu pai fumando cachimbo; do banho de cachoeira; sobretudo, saudades do Mar de Minas.
O Mar de Minas não é no mar
O Mar de Minas é no céu
Pro mundo olhar para cima e navegar
Sem nunca ter um porto aonde chegar.....
Que coisa mais louca: uma “Maria Fumaça”
resfolegando e apitando sob o mar infinito.
Minas Gerais é assim: mistério........
Por: Rubem Alves / Cenas da vida.
Curiosidades: A origem do Pão de Queijo
A origem do pão de queijo é incerta, especula-se que exista desde o século XVIII e se confunde com a própria origem da culinária mineira.
Em tempo de crise recorreu-se à cultura indígena: primeiro surgiu a goma, vindo da mandioca sob a forma do polvilho doce ou azedo; depois a gordura de porco, o sal, o ovo, o leite, a nata, a manteiga e por último o queijo, que aos poucos incorporou-se ao biscoito de goma moldados sob a forma de pequenas bolinhas e finalmente assados.
Arcadismo ou Neoclassicismo
- Início: 1768 - Publicação das obras de Cláudio Manuel da Costa
- Arte do equilíbrio e harmonia
- Locus Amoenus: Lugar agradável;
- Fugere Urben: Fugir da Cidade
- Busca do Racional, do verdadeira e da natureza
- Retorno às concepções de beleza do Renascimento;
- Poesia objetiva e descritiva
- Aurea Mediocritas: O objetivo arcádico de uma vida serena e bucólica
- Pastoralismo
- Valorização da Mitologia
- Técnica da Simplicidade
- Literatura linear e regrada: Inutilia Truncat - Cortar o inútil
- Carpe Diem como convencimento amoroso
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
e mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela.
graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte:
dos anos inda não está cortado;
os Pastores que habitam este monte
respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela concerto a voz celeste
nem canto letra, que não seja minha.
Graças, Marília bela.
graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
só apreço lhes dou, gentil Pastora,
depois que o teu afeto me segura
que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
de um rebanho, que cubra monte e prado;
porém, gentil Pastora, o teu agrado
vale mais que um rebanho e mais que um trono.
Graças, Marília bela.
graças à minha Estrela!
Soneto - Claudio Manuel da Costa
Destes penhascos fez a natureza
O berço, em que nasci: oh quem cuidara,
Que entre penhas tão' duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!
Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:
Vós, que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mas se apura.
Neoclassicismo nas artes
- O Brasil recebe forte influência cultural européia intensificada pela chegada da “Missão Artística Francesa”.
- O objetivo desses artistas era fundar a Real Academia de Belas-Artes , no Rio de Janeiro para ensinar as artes e os ofícios artísticos.
- Propunha a volta aos padrões da arte clássica (greco-romana) da Antiguidade.
- Pinturas em estilo acadêmico (realista).
- Retratavam uma imagem ideal e não necessariamente a real.
- Temas históricos ou mitológicos.
- Retratos de nobres e burgueses.
Arquitetura:
- Colunas gregas
- Arcos romanos
- Frontões
- Cúpulas
Pintura:
- Acadêmico
- Acadêmico
- Temas históricos
- Temas mitológicos
- Cena idealizada
- Retratos
- Paisagens
Missão artística Francesa
Nicolas-Antoine Taunay |
Jean-Bapstiste Debret |
Outros artistas estrangeiros
Johann-Moritz Rugendas |
Thomas Ender |
Alunos da Academia de Belas-Artes
Pedro Américo |
Vitor Meirelles |
Arsênio Cintra da Silva |
Moema, Victor Meirelles, 1866 |
Perde o lume dos olhos, pasma e trema,
Pálida a cor, o aspecto moribundo,
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo:
"Ah! Diogo cruel!" disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.
Choraram da Bahia as ninfas belas
Que, nadando, a Moema acompanhavam;
E, vendo que sem dor navegam delas,
branca praia com furor tornavam.
Nem pode o claro herói sem pena vê-las,
Com tantas provas que de amor lhe davam;
Nem mais lhe lembra o nome de Moema,
Sem que ou amante a chore, ou grato gema
(ENEM/2008)
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,
Aqui descanse a louca fantasia,
E o que até agora se tornava em pranto
Se converta em afetos de alegria.
Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesiados inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.
Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta acerca da relação entre o poema e o momento histórico de sua produção.
a) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje “rico e fino”.
b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.
c) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em realizar uma representação literária realista da vida nacional.
d) A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é formulação literária que reproduz a condição histórica paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
e) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está representada esteticamente no poema pela referência, na última estrofe, à transformação do pranto em alegria.
Resposta:
b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.
O eu-lírico está dividido entre a cidade(corte) e o campo, que simboliza a mesma oposição entre, respectivamente, Metrópole e Colônia. Embora ele prefira o campo, a vida pastoril não pode prescindir a da cidade, mesmo porque ele estabelece seus paradoxos existenciais e estéticos em consideração essa oposição. Deve-se lembrar que o poeta teve uma longa vivência em Portugal antes de retornar a Minas Gerais, marcando, assim, suas contradições.
Assinale a opção que apresenta um verso do soneto de Cláudio Manoel da Costa em que o poeta se dirige ao seu interlocutor.
a) “Torno a ver-vos, ó montes; o destino”
b) “Aqui estou entre Almendro, entre Corino,”
c) “Os meus fiéis, meus doces companheiros,”
d) “Vendo correr os míseros vaqueiros”
e) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”
Resposta:
a) “Torno a ver-vos, ó montes; o destino”
A correta é a alternativa A, pois o poeta se dirige ao seu interlocutor e utiliza o vocativo, como se falasse aos montes: “ó montes..”
Em 1924 um grupo de intelectuais paulistas ligado à Semana de Arte Moderna fez uma histórica viagem às cidades coloniais mineiras. Entre os integrantes estavam Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, que, paradoxalmente, fez o papel de mediador, através do qual os paulistas começaram a ver o Brasil com outros olhos — como matéria-prima e objeto de reflexão para a arte moderna.
Aproximação da capital
Trazem-nos poemas no trem
Azuis e vermelhos
Como a terra e o horizonte
É um hotel rigorosamente familiar
Que oferece vantagens reais
Aos dignos forasteiros
Havendo o máximo escrúpulo na direção da cozinha
Casas defendem o vosso próprio interesse
Proporcionando-vos uma economia
De 2$000, de 3$000
Impermeáveis
Borzeguins
Pijamas
A viagem inicia-se em São João del-Rei, onde o grupo chega de trem na Semana Santa. Visitam a cidade e também Tiradentes com o entusiasmo de redescobridores do Brasil colonial. Por toda parte encontram calma, simplicidade, a paisagem bucólica e no passado distante uma produção artística enraizada na cultura mineira do século XVIII.
Capela nova
Salão Mocidade
Hotel do Chico
Uma igreja velha e cor-de-rosa
Na decoração dos bananais
Dos coqueirais
A viagem constitui um marco especialmente determinante na poesia de Oswald e na pintura de Tarsila. Visitar o passado e redescobrir Minas Gerais foi fundamental para a criação do movimento artístico pau-brasil, que tinha por objetivo desmontar a eloqüente retórica importada do século XIX e conferir à nossa arte um sentido novo e uma dimensão brasileira.
Metalúrgica
1.300 à sombra dos telheiros retos
12.000 cavalos invisíveis pensando
40.000 toneladas de níquel amarelo
Para sair do nível das águas esponjosas
E uma estrada de ferro nascendo do solo
Os fornos entroncados
Dão o gusa e a escória
A refinação planta barras
E lá em baixo os operários
Forjam as primeiras lascas de ferro
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